sem superfície

Maris Machado
Nov 27, 2022

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não me contento em ouvir o som da chuva, um cair distante admirado da janela. observar o barulho das gotas espessas caírem no asfalto quente não é o suficiente; é preciso molhar os solados do sapato marrom.

sei menos ainda do raso — admirar, de longe, a cachoeira de cascalho colorido e pútrido. a observação, desassociada do movimento das pequenas ondas no baixo ventre, não parece completa.

quero me afogar na queda que se estende aos olhos; no oceano gélido de água doce, que arrepia cabelos e mamilos.

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Maris Machado

a historiadora e o animal extraviado que vive nela, convivendo e conversando sobre as respectivas incongruências cotidianas.