dos sete minutos de rotina

Maris Machado
1 min readMar 17, 2023

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O relógio, as fitas azuis no cabelo crespo. As pernas machucadas confessam as estradas; tortuosas demais. Calos nos pés pretos, que não escondem os caminhos incômodos, registrados sob o carimbo do par de chinelos remendados.

Observo, pelo outro lado.

Cada movimento carregado de silenciosas confissões.

Um relógio, de pulseira elástica, dança entre os dedos da mão desconhecida. Uma ansiedade encapsulada, contida em um ritmo secreto. Contam-se os dedos, as horas, o passar dos ponteiros.

Os laços de fita presos em caracóis coloridos em tons de cinza, destacam o azul. Risada contida no curvar dos lábios enrrugados.

Olhar grisalho que repousa sobre a mão alheia (não a do relógio). Mão que, desprovida da honra do passar dos anos, caminha jovem e afoita no tatear de um outro corpo. O público consente.

Tato, sentido, dejavu… relógio que dança de um pulso a outro pulsar.

Desço do metrô.

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Maris Machado

a historiadora e o animal extraviado que vive nela, convivendo e conversando sobre as respectivas incongruências cotidianas.