dos rabiscos
volta e meia retorno ao jardim.
em dia de feira, por vezes o cinza do alvorecer dá lugar à cores vívidas demais para quem se habituou ao escuro.
na mão, anel relicário é lembrança sã dos dedos rasgados, de cutículas sangrando em um mesmo vermelho escarlate.
o gosto férreo na boca como lembrete: beijos são instantes declamações de morte.
penso no jardim.
o misturar-se em cores, em dores; o limite não posto — mas presente.
imposição de fronteiras invisíveis e, não surpreendentemente, transponíveis em sua própria existência — exageradamente precavida.
silêncio perdido, abafado pela batida oca da porta do carro. rasgo meus pedaços e, partida, entrego parte do que sou — o que prevalece em nós.
sangro seca, cicatrizo.
rabiscos que não cabem no corpo acabam aqui, escritos.
confio no olhar caído e escuro. lembro do jardim; antes que o tempo acabe.