da hipocondria
Meu desassossego é colocar fora (de mim) o que convive dentro.
O sentir é uma doença crônica, da qual me habituei a coexistir. A dor, logo aprendi, carece de algum registro. Colocar no papel é forçar o sintoma a transformar-se (no quê, ainda não sei dizer).
Porque se a doença é o sentir, nossas dores todas não são mais do que sintomas. Feridas mal cicatrizadas, de mau aspecto, as vezes pútridas — que ali só estão pela doença, justificativa coautoral do sintoma.
A convivência, hoje abrandada, transubstancia realidades. Reviver dores, é por vezes revisitar lugares de prazer. O corpo responde antes da palavra chegar à boca, que agora saliva. Língua que molha os lábios rachados; ferida reafirmada.
O sentir é uma doença crônica inserida num corpo que habita um hospital precário. Multidões no limbo, anseiam ante a possibilidade de um dessensibilizar-se coletivo.